28 outubro, 2010

Crónica do MEC no Público...Genial:)

Confesso que a minha ambição era a mais louca de todas: revelar os segredos de um casamento feliz. Tendo descoberto que são desaconselháveis os conselhos que ia dar, sou forçado a avisar que, quase de certeza, só funcionam no nosso casamento.

Mas vou dá-los à mesma, porque nunca se sabe e porque todos nós somos muito mais parecidos do que gostamos de pensar.

O casamento feliz não é nem um contrato nem uma relação. Relações temos nós com toda a gente. É uma criação. É criado por duas pessoas que se amam.

O nosso casamento é um filho. É um filho inteiramente dependente de nós. Se nós nos separarmos, ele morre. Mas não deixa de ser uma terceira entidade.

Quando esse filho é amado por ambos os casados - que cuidam dele como se cuida de um filho que vai crescendo -, o casamento é feliz. Não basta que os casados se amem um ao outro. Têm também de amar o casamento que criaram.

O nosso casamento é uma cultura secreta de hábitos, métodos e sistemas de comunicação. Todos foram criados do zero, a partir do material do eu e do tu originais.

Foram concordados, são desenvolvidos, são revistos, são alterados, esquecidos e discutidos. Mas um casamento feliz com dez anos, tal como um filho de dez anos, tem uma personalidade mais rica e mais bem sustentada, expressa e divertida do que um bebé com um ano de idade.

Eu só vivo desta maneira - que é o nosso casamento - vivendo com a Maria João, da maneira como estamos um com o outro, casados. Nada é exportável. Não há bocados do nosso casamento que eu possa levar comigo, caso ele acabe.

O casamento é um filho carente que dá mais prazer do que trabalho. Dá-se de comer ao bebé mas, felizmente, o organismo do bebé é que faz o trabalho dificílimo, embora automático, de converter essa comida em saúde e crescimento.

Também o casamento precisa de ser alimentado mas faz sozinho o aproveitamento do que lhe damos. Às vezes adoece e tem de ser tratado com cuidados especiais. Às vezes os casamentos têm de ir às urgências. Mas quanto mais crescem, menos emergências há e melhor sabemos lidar com elas.

Se calhar, os casais apaixonados que têm filhos também ganhariam em pensar no primeiro filho que têm como sendo o segundo. O filho mais velho é o casamento deles. É irmão mais velho do que nasce e ajuda a tratar dele. O bebé idealmente é amado e cuidado pela mãe, pelo pai e pelo casamento feliz dos pais.

Se o primeiro filho que nasce é considerado o primeiro, pode apagar o casamento ou substitui-lo. Os pais jovens - os homens e as mulheres - têm de tomar conta de ambos os filhos. Se a mãe está a tratar do filho em carne e osso, o pai, em vez de queixar-se da falta de atenção, deve tratar do mais velho: do casamento deles, mantendo-o romântico e atencioso.

Ao contrário dos outros filhos, o primeiro nunca sai de casa, está sempre lá. Vale a pena tratar dele. Em contrapartida, ao contrário dos outros filhos, desaparece para sempre com a maior das facilidades e as mais pequenas desatenções. O casamento feliz faz parte da família e faz bem a todos os que também fazem parte dela.

Os livros que li dão a ideia de que os casamentos felizes dão muito trabalho. Mas se dão muito trabalho como é que podem ser felizes? Os livros que li vêem o casamento como uma relação entre duas pessoas em que ambas transigem e transaccionam para continuarem juntas sem serem infelizes. Que grande chatice!

Quando vemos o trabalho que os filhos pequenos dão aos pais, parece-nos muito e mal pago, porque não estamos a receber nada em troca. Só vemos a despesa: o miúdo aos berros e a mãe aflita, a desfazer-se em mimos.

É a mesma coisa com os casamentos felizes. Os pais felizes reconhecem o trabalho que os filhos dão mas, regra geral, acham que vale a pena. Isto é, que ficaram a ganhar, por muito que tenham perdido. O que recebem do filho compensa o que lhe deram. E mais: também pensam que fizeram bem ao filho. Sacrificam-se mas sentem-se recompensados.Num casamento feliz, cada um pensa que tem mais a perder do que o outro, caso o casamento desapareça. Sente que, se isso acontecer, fica sem nada. É do amor. Só perdeu o casamento deles, que eles criaram, mas sente que perdeu tudo: ela, o casamento deles e ele próprio, por já não se reconhecer sozinho, por já não saber quem é - ou querer estar com essa pessoa que ele é.

Se o casamento for pensado e vivido como uma troca vantajosa - tu dás-me isto e eu dou-te aquilo e ambos ficamos melhores do que se estivéssemos sozinhos -, até pode ser feliz, mas não é um casamento de amor.

Quando se ama, não se consegue pensar assim. E agora vem a parte em que se percebe que estes conselhos de nada valem - porque quando se ama e se é amado, é fácil ser-se feliz. É uma sorte estar-se casado com a pessoa que se ama, mesmo que ela não nos ame.

Ouvir um casado feliz a falar dos segredos de um casamento feliz é como ouvir um bilionário a explicar como é que se deve tomar conta de uma frota de aviões particulares - quantos e quais se devem comprar e quais as garrafas que se deve ter no bar, para agradar aos convidados.

Dirijo-me então às únicas pessoas que poderão aproveitar os meus conselhos: homens apaixonados pelas mulheres com quem estão casados.

E às mulheres apaixonadas pelos homens com quem estão casadas? Não tenho nada a dizer. Até porque a minha mulher continua a ser um mistério para mim. É um mistério que adoro, mas constitui uma ignorância especulativa quase total.

Assim chego ao primeiro conselho: os homens são homens e as mulheres são mulheres. A mulher pode ser muito amiga, mas não é um gajo. O marido pode ser muito amigo, mas não é uma amiga.

Nos livros profissionais, dizem que a única grande diferença entre homens e mulheres é a maneira como "lidam com o conflito": os homens evitam mais do que as mulheres. Fogem. Recolhem-se, preferem ficar calados.

Por acaso é verdade. Os livros podem ser da treta mas os homens são mais fugidios.

Em vez de lutar contra isso, o marido deve ceder a essa cobardia e recolher-se sempre que a discussão der para o torto. Não pode ser é de repente. Tem de discutir (dizê-las e ouvi-las) um bocadinho antes de fugir.

Não pode é sair de casa ou ir ter com outra pessoa. Deve ficar sozinho, calado, a fumegar e a sofrer. Ele prende-se ali para não dizer coisas más.

As más coisas ditas não se podem desdizer. Ficam ditas. São inesquecíveis. Ou, pior ainda, de se repetirem tanto, banalizam-se. Perdem força e, com essa força, perde-se muito mais.

As zangas passam porque são substituídas pela saudade. No momento da zanga, a solidão protege-nos de nós mesmos e das nossas mulheres. Mas pouco - ou muito - depois, a saudade e a solidão tornam-se insuportáveis e zangamo-nos com a própria zanga. Dantes estávamos apenas magoados. Agora continuamos magoados mas também estamos um bocadinho arrependidos e esperamos que ela também esteja um bocadinho.

Nunca podemos esconder os nossos sentimentos mas podemos esconder-nos até poder mostrá-los com gentileza e mágoa que queira mimo e não proclamação.

Consiste este segredo em esperar que o nosso amor por ela nos puxe e nos conduza. A tempestade passa, fica o orgulho mas, mesmo com o orgulho, lá aparece a saudade e a vontade de estar com ela e, sobretudo, empurrador, o tamanho do amor que lhe temos comparado com as dimensões tacanhas daquela raivinha ou mágoa. Ou comparando o que ganhamos em permanecer ali sozinhos com o que perdemos por não estar com ela.

Mas não se pode condescender ou disfarçar. Para haver respeito, temos de nos fazer respeitar. Tem de ficar tudo dito, exprimido com o devido amuo de parte a parte, até se tornar na conversa abençoada acerca de quem é que gosta menos do outro.Há conflitos irresolúveis que chegam para ginasticar qualquer casal apaixonado sem ter de inventar outros. Assim como o primeiro dever do médico é não fazer mal ao doente, o primeiro cuidado de um casamento feliz é não inventar e acrescentar conflitos desnecessários.

No dia-a-dia, é preciso haver arenas designadas onde possamos marrar uns com os outros à vontade. No nosso caso, é a cozinha. Discutimos cada garfo, cada pitada de sal, cada lugar no frigorífico com desabrida selvajaria.

Carregamos a cozinha de significados substituídos - violentos mas saudáveis e, com um bocadinho de boa vontade, irreconhecíveis. Não sabemos o que representam as cores dos pratos nas discussões que desencadeiam. Alguma coisa má - competitiva, agressiva - há-de ser. Poderíamos saber, se nos déssemos ao trabalho, mas preferimos assim.

A cozinha está encarregada de representar os nossos conflitos profundos, permanentes e, se calhar, irresolúveis. Não interessa. Ela fornece-nos uma solução superficial e temporária - mas altamente satisfatória e renovável. Passando a porta da cozinha para irmos jantar, é como se o diabo tivesse ficado lá dentro.

Outro coliseu de carnificina autorizada, que mesmo os casais que não podem um com o outro têm prazer em frequentar, é o automóvel. Aí representamos, através da comodidade dos mapas e das estradas mesmo ali aos nossos pés, as nossas brigas primais acerca das nossas autonomias, direcções e autoridades para tomar decisões que nos afectam aos dois, blá blá blá.

Vendo bem, os casamentos felizes são muito mais dramáticos, violentos, divertidos e surpreendentes do que os infelizes. Nos casamentos infelizes é que pode haver, mantidas inteligentemente as distâncias, paz e sossego no lar.

19 outubro, 2010

E porque em direito tudo o que se alega deve ser provado...

Cá está o bicho:)

A Quercus que me perdoe:)

Há um pombo (ou dois iguaizinhos) que desde ontem está aqui na janela a fazer um som que me irrita bastante... Eu não sei se o espécime dormiu aqui, o que sei é que hoje de manhã já cá estava outra vez...


Ontem ao inicio na manhã e quando o barulho começou, ainda fui espreitar para ver se o bicho estava preso a qualquer coisa que o impedia de sair mas, aparentemente, nada o prende aqui a não ser a sua teimosia ou o facto deste parapeito ser mesmo especial e eu nunca ter dado por isso!


Não sei bem se isto é piar (POMBO: arrolar, arrular, arrulhar, gemer, rular, rulhar, suspirar, turturilhar, turturinar...)  ou se o tipo está doente e se está a queixar mas sei que me está a deixar à beira de um ataque de nervos!


Não há nenhuma pomba por perto por isso o Sr. não está a cortejar nenhum espécime pombo do sexo feminino o que poderia justificar tamanha gritaria portanto só sei que o bicho está aqui alapado a refilar e não se percebe com quem... 


Terá perdido alguma caso em tribunal e quer que seja feita justiça?


Será funcionário público e refila contra a diminuição das retribuições?


Estará desempregado e refila contra a falta de soluções que o Governo apresenta para esta faixa da população?


É utente da A28 e reclama contra as portagens recusando-se a comprar o famoso dispositivo?...


Estará ele a tomar as dores do Francisco Assis que tenta a todo o custo safar o Sr. José e ver o orçamento aprovado?... (Já não se pode com o ar de vítima que ele põe assim que vê uma câmara de TV)


Será amigo do Passos Coelho e já canta vitória antes das eleições?...


Muito me agradaria que fosse amigo do Cavaco e permanecesse em silêncio com mais um dos seus tabus...


Xô pombo feio é o que me apetece dizer mas não posso porque estou no escritório e há limites...






Orgulho!



Hoje deixaste-me muito muito orgulhoso. A Barra é um lugar contigo lá:)

14 outubro, 2010

Projectos

Enquanto não recebo boas novas de um emprego vou-me entretendo com umas bricolages. Faz-me sentir bem e é uma forma de agradecer a quem me dá tanto. Gosto de me sentir útil.



Aqui fica o "antes". Quando acabar mostro o "depois".

07 outubro, 2010

Prega uma coisa e faz outra...

Hoje, a propósito de uma discussão acesa sobre religião não pude deixar de constatar que passamos a vida a pregar uma coisa e na realidade fazemos outra...ou melhor, alguns fazem outra!
Veja-se: haverá alguma mãe que diga ao seu filho que não deve ser amigo dos outros? Haverá alguma mãe que não diga aos seus filhos que somos todos iguais independentemente de cor...de credo...de extracto social e, agora tão em voga de orientação sexual?...
Então, se todos ouvimos os conselhos sábios dos mais velhos porque é que somos adultos intolerantes? Porque é que a palavra respeito não é o nosso modo de vida? Posso até não compartilhar do que é professado pelo meu interlocutor mas tenho que o respeitar nas suas diferenças e exijo ser respeitado também. Fico chocada quando vejo a intolerância de carne e osso à minha volta sem qualquer pingo de vergonha por existir...
Sei que não me devia chocar com estas coisas e que a falta de respeito pelas diferenças é o que mais abunda por esse mundo fora mas, eu que me guio o que me foi transmitido na infância, também jamais perderei o direito à indignação, mesmo que de nada me valha e mesmo que seja até causador de inquietações, discussões e até úlceras no estômago:)
No dia que o que se passou hoje não me chocar estarei a ser indiferente e mais uma entre tantos que encolhem os ombros perante tamanha falta de respeito pelo próximo.
Mais uma vez o dia-a-dia leva-me até às leituras que fiz...
Hoje vem tão a propósito...

E se as histórias para crianças passassem
a ser leitura obrigatória para os adultos?

Seriam eles capazes de aprender realmente
o que há tanto tempo têm andado a ensinar?


José Saramago


Grande S.!  Fazes-me falta!

06 outubro, 2010

Sempre adorei a lucidez dele...

"Olharei a tua sombra se não quiseres que te olhe a ti,

Quero estar onde estiver a minha sombra,

se lá é que estiverem os teus olhos."
 
José Saramago in O Evangelho Segundo Jesus Cristo 
 
 
GTT

04 outubro, 2010

Não sei se é do sono....

.... ou da nossa conversa antes de adormecermos mas hoje estou assim....
 Tenho é medo de descer à terra e descobrir que não passam de sonhos impossíveis de realizar....